Mãe de gêmeos, o Lucas e Joaquim de 5 anos, a psicóloga Emanuella faz um breve relato da situação na sua rotina familiar. Suas emoções, pensamentos e sentimentos neste momento de isolamento social.

Somos uma família de quatro pessoas: eu, meu esposo e dois filhos, meninos gêmeos, de 5 anos. Mesmo antes da pandemia tínhamos uma rotina de bastante presença. Pela manhã eu ficava em casa com os meninos. E a tarde eles iam para a escola e eu ia trabalhar. A noite estávamos todos em casa juntos. A partir do isolamento a casa passou a ter vida 24 horas, os cômodos se transformaram em escritórios, salas de aula. A sacada tem rede, plantas, brinquedos, mas também agora tem mesa com computador, planilhas e documentos importantes. O quarto dos meninos, que com apenas 5 anos só havia legos, patrulha canina, agora tem notebooks, pasta com as tarefas.

A individualidade é coisa rara

Neste período de isolamento temos que saber que a individualidade é coisa rara, estamos juntos em tudo a todo momento. 

– no homescholling dos meninos,  tive que reservar parte da minha tarde para poder acompanha-los e mediar o processo de educação.

-o esposo trabalhando mais de 8 horas por dia, com reuniões e ligações importantes, exigindo de nós 3 controle dos nossos comportamentos. Temos que cuidar para não gritar, não invadir a sacada aonde é o seu novo escritório;

– meu consultório é do lado de casa, o que permite ir até lá para trabalhar e manter o sigilo dos pacientes. Saio equipada, após todo um dia que já aconteceu (arrumar casa, fazer comida, limpar cozinha, acompanhar as aulas das crianças, fazer as tarefas, deixar os lanches da tarde pronto, lidar com a falta de vontade de estudar em casa… e toda a energia acumulada). Chego lá, e uma nova etapa começa… concentração, aquietamento da mente para poder estar focada nas necessidades e demandas dos meus pacientes. A noite quando volto para a segurança do lar, com muito barulho e bagunça, sei que a casa tem vida, que a casa está saudável e é isso que mais queremos nesse momento.

Pensamentos de mãe de gêmeos

O que penso sobre a situação? Penso que é preciso pausar, que é preciso parar os comportamentos não saudáveis que estavam acontecendo. Acredito que é necessária essa reflexão que o vírus está nos forçando a fazer. Que adultos essas crianças seriam? Que novos transtornos mentais seriam criados a partir da dinâmica de vida que estava sendo instaurada? Crianças em grandes períodos da escola, com toda a sua educação terceirizada para a escola, pais impacientes, conectados as redes sociais e desconectados de suas vidas. Mudar dói, e às vezes é preciso adoecer para se curar.

Mãe de gêmeos: Sentimentos no isolamento

O que sinto sobre a situação? Em alguns momentos ansiedade, por conta de tantas demandas que estão sendo postas. Há uma sobrecarga de tarefas e responsabilidades que às vezes não sei se vou dar conta, e daí sim a ansiedade vem, me sinalizando de que tenho interpretado a situação como se algo terrível pudesse acontecer… e que preciso rever esses pensamentos e cuidar deles.

Comportamento de mãe de gêmeos no isolamento

O que faço? Respiro, medito, presto atenção em meus pensamentos, monto um plano para dar conta dos problemas que minha mente tem criado.

É preciso criar novos hábitos

Criei novos hábitos, pontos positivos, dicas …. Aperfeiçoei minhas práticas culinárias, agora fazemos muitas refeições em casa. Tem exigido mais receitas e criatividade. Criamos o hábito da oração, é preciso uma conexão emocional para desenvolver gratidão e esperança nesse momento.

Mais do que nunca, as crianças e nós adultos estamos necessitando cultivar a espiritualidade como uma maneira de enfrentamos a situação. Estamos desenvolvendo a cooperação em casa, todos precisam ajudar. As crianças tem percebido isso, e já disseram que vão me dar um robô para limpar a casa no dias das mães e uma maquina de massagem… heeh  Há uma percepção de que precisamos todos nos unir.

Estamos aprendendo a lidar com o ócio sem recorrer as tecnologias do celular, a pegar um lápis de cor e colorir quando não temos nada a fazer, a ficar na rede se balançando sem estar com o celular apontado para os olhos, a tirar cochilos depois do almoço. Nos permitir fazer pausas.. Estamos desenvolvendo a resiliência, a manejar as emoções… Os conflitos estão mais fáceis de acontecer… o que posso fazer quando estou com raiva, irritado? As crianças aprenderam a vir me abraçar quando estão com vontade de bater no irmão. Aprenderam a ceder para não gerar conflito. Estamos aprendendo a nos comunicar de forma clara, pois precisamos expressar o que queremos, o que nos incomoda.

Percebo que estamos dando vida a valores familiares que estavam adormecidos em nós, e que estavam se perdendo. São esses valores que nos tornam humanos!

Emanuella – psicóloga e mãe de gêmeos

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